quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

LEITURA: O BAZAR ATÔMICO

O bazar atômico
William Langewiesche
Companhia das Letras2007
Livro-reportagem do jornalista americano William Langewiesche alerta para a proliferação de armas atômicas entre países instáveis
Por Jerônimo Teixeira
Revista Veja - 25/07/2007
O fim da Guerra Fria, no início dos anos 90, parecia ter encerrado a ameaça do apocalipse nuclear. Mas então os doidos da Al Qaeda derrubaram o World Trade Center, em 2001, e o desmantelamento da União Soviética se transformou em fator adicional de pânico. E se os terroristas colocarem as mãos no material nuclear das antigas repúblicas soviéticas?
O Bazar Atômico (tradução de José Viegas; Companhia das Letras; 192 páginas; 36 reais), do jornalista americano William Langewiesche, editor internacional da revista Vanity Fair, é, em grande medida, uma leitura tranqüilizadora: as possibilidades de um terrorista obter uma bomba atômica são remotas.
De outro lado, porém, ele alimenta a inquietação ao demonstrar que há no mundo, hoje, uma tendência talvez irrefreável para a expansão da tecnologia atômica- uma realidade patente nas recentes crises diplomáticas em torno dos programas nucleares do Irã e da Coréia do Norte. "A proliferação nuclear é, a longo prazo, inevitável", disse Langewiesche a VEJA.
As primeiras páginas de O Bazar Atômico centram-se nos efeitos da bomba que destruiu a cidade de Hiroshima, em 1945, e levou a que o Japão se colocasse de joelhos diante dos Estados Unidos. No imediato pós-guerra, os americanos acreditavam que seriam os guardiões únicos dessas forças destrutivas- mas a União Soviética, pela via da espionagem, também chegou lá.
O Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, de 1968, tentou manter a bomba como privilégio de um clubinho de cinco países- Estados Unidos, União Soviética, Inglaterra, China e França. Hoje, porém, não há perspectiva mais assustadora que a de que um grupo de fanáticos como a Al Qaeda bote as mãos em um artefato atômico. É muito improvável que isso tenha acontecido - de outra forma, os grupos terroristas, que não têm nada a perder, já teriam explodido alguma grande metrópole ocidental.
As antigas repúblicas soviéticas são costumeiramente apontadas como as potenciais fornecedoras de material nuclear para o terrorismo, em razão de seu desmantelamento institucional. Os Estados Unidos vêm tomando precauções eficazes contra tal ameaça, oferecendo ajuda na "desnuclearização" desses países. A própria Rússia ainda é uma potência nuclear, mas seu arsenal é mais seguro do que se imagina. "O alarmismo é uma indústria. Muita gente tem nele o ganha-pão, seja no cinema e nos tablóides, seja na universidade", afirma Langewiesche.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

REPERCUSSÃO INTERNACIONAL DA MORTE DE D. ALOÍSIO LORSCHEIDER

ALOISIO LORSCHEIDER ENFRENTO LAS DICTADURAS
Murió el cardenal héroe de Brasil

Murió ayer Aloísio Lorscheider, un cardenal influyente que enfrentó la dictadura en Brasil. Fue el ex presidente de la Conferencia Episcopal Latinoamericana (Celam) y la Conferencia Nacional de Obispos de Brasil (CNBB) en tiempos de gobiernos militares. Reconocido como militante de los derechos humanos y la reforma agraria, Lorscheider se identificó con la Teología de la Liberación durante la década del ’70 y habría sido uno de los candidatos al papado en los dos cónclaves en que participó en 1978. En 1993 fue encarcelado tras participar en una protesta contra el gobierno. Hoy es recordado por sus trabajos humanitarios en Brasil.
Leia mais em:




BRASILE, MORTO A 83 ANNI IL CARDINALE LORSCHEIDER
(domenica 23 dicembre 2007 17:32)

Si è spento stamani all'età di 83 anni il cardinale brasiliano Aloisio Lorscheider, dell'Ordine dei Frati Minori. Il porporato, di origine tedesca, è morto nel convento francescano di Porto Alegre, dove si era ritirato negli ultimi anni. Il cardinale Lorscheider, nato nel 1924 proprio a Porto Alegre, vestì il saio francescano a 18 anni e, quattro anni più tardi, nel 1946 emise i voti solenni. Apprezzato per la sua produzione scientifica, fu chiamato dai superiori maggiori dell'ordine francescano a Roma, ad insegnare al Pontificio Ateneo Antonianum. Nel 1962 è stato nominato vescovo di Santo Angelo e successivamente arcivescovo di Fortaleza, nel 1973, e infine di Aparecida, dal 1995 fino al 28 gennaio 2004. Creato cardinale da Paolo VI, nel 1976, il porporato ha rivestito il ruolo di presidente dell'episcopato brasiliano e del CELAM, il Consiglio episcopale latino-americano. L'anno dopo, è stato relatore della IV Assemblea generale del Si...
In quelle ore afose dell’agosto 1978, nell’ultima votazione del conclave dal quale stava per uscir Papa Giovanni Paolo I, il nome del cardinale Aloisio Lorscheider, arcivescovo di Fortaleza, venne scrutinato una sola volta. Ma era un voto pesante, perché a scriverlo era stato il patriarca di Venezia Albino Luciani, che di lì a poco si sarebbe affacciato vestito di bianco dalla loggia di San Pietro. Quel giovane cardinale brasiliano, infatti, era il suo candidato per il papato.






By THE ASSOCIATED PRESS
Published: December 23, 2007
Filed at 4:18 p.m. ET
SAO PAULO, Brazil (AP) -- Aloisio Lorscheider, one of Latin America's most influential cardinals, died Sunday after a lengthy hospital stay. He was 83.
The Brazilian cardinal was hospitalized in early December with a heart condition, the Aparecida Archdiocese said in a statement, without giving more details.
The two-time president of the National Conference of Brazilian Bishops played an influential role in the two conclaves of 1978 and pushed for the election of Cardinal Karol Wojtyla of Poland, who became
Pope John Paul II.
Lorscheider created a stir in Brazil in 1998 when he doubted the healing effects of popular, tiny, rice-paper pills linked to Friar Galvao, who this year became Brazil's first native-born saint.

domingo, 23 de dezembro de 2007

UMA PERDA IRREPARÁVEL PARA O BRASIL


Morre D. Aluisio Lorscheider
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI2173018-EI306,00.html


O cardeal d. Aloísio Lorscheider, arcebispo emérito de Aparecida (SP) nasceu em 8 de outubro de 1924, em Picada Geraldo, Estrela, no Rio Grande do Sul. Ingressou em 1934, no Seminário dos padres franciscanos, em Taquari, onde fez os cursos Ginasial e Colegial.
Em 1942, fez o noviciado e o primeiro ano de Filosofia no Convento São Boaventura, em Daltro Filho e Garibaldi (RS). Em 1944, foi transferido para o Convento Santo Antônio, em Divinópolis, Minas Gerais, onde terminou o curso de Filosofia e fez o curso de Teologia. Passou a adotar o nome religioso de Frei Aloísio, nome que conservou até o final de sua vida.
Na cidade mineira, concluiu os estudos de filosofia e teologia e obteve a ordenação presbiterial em agosto de 1948, tornando-se padre. Entre o ano seguinte e 1952, fez sua licenciatura e seu doutorado em Teologia Dogmática no Pontifício Ateneu Antoniano, em Roma, na Itália.
De volta ao Brasil, foi professor de Teologia Dogmática, Espiritualidade e Pastoral em Divinópolis até 1958. No mesmo ano, voltou ao Pontifício Ateneu Antoniano como professor de Teologia Dogmática e diretor dos estudantes, tarefas que exerceu até 1962.
Lorscheider foi nomeado bispo de Santo Ângelo (RS) em junho de 1962, onde permaneceu até 1973, quando foi nomeado arcebispo de Fortaleza (CE). Entre junho de 1968 e fevereiro de 1971, foi secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). De 1971 a 1978, atuou como presidente da entidade.
Durante o regime militar (1968-1985), foi um dos bispos de maior destaque na defesa dos direitos humanos, sendo um dos autores do documento redigido pela CNBB, em 1968, pedindo a volta do "funcionamento do Executivo, Legislativo e Judiciário, com a elaboração de uma Constituição eficaz".
Em Fortaleza, d. Aloísio atuou em favor da reforma agrária e pelo fim dos conflitos de terra no Estado do Ceará. Por isso, recebeu diversas ameaças de morte, teve dois cachorros envenenados e sofreu uma tentativa de intimidação com uma bomba caseira no jardim de sua casa. Três homens armados chegaram a tentar invadir a residência, mas foram descobertos.
D. Aloísio foi nomeado cardeal em abril de 1976, pelo papa Paulo VI. Entre 1976 e 1979, foi 1º vice-presidente e presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam). Em 1979, foi ainda um dos presidentes da III Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, em Puebla, no México.
Suas posições enérgicas em favor aos direitos humanos lhe renderam uma carta-advertência enviada pelo papa João Paulo II em 1988.
Em março de 1994, Lorscheider foi feito refém durante uma rebelião no Instituto Penal Paulo Sarasate, em Fortaleza, onde verificava as condições das instalações. Ele foi solto após quase 20 horas em poder dos detentos, que articulavam um plano de fuga
.
No ano seguinte, d. Aloísio foi nomeado bispo de Aparecida, onde ficou até a sua renúncia, em 2004. Nos últimos três anos, viveu no convento franciscano do bairro de Ipanema, em Porto Alegre.

Leia o nosso comentário no site do Terra:


Uma perda irreparável para o Brasil
Data: 23 Dec 2007 18:02:05 -0200De: "Gilberto Telmo Sidney Marques"
Ao lado de D. Helder Câmara e de D. Evaristo Arns, D. Aluisio Lorscheider foi uma das vozes que nunca silenciaram na noite mais escura que se abateu sobre o nosso país durante 21 anos. Ao longo de toda a sua vida exemplar D. Lorescheider fez a opção preferencial pelos pobres, pelos oprimidos e humilhados e pelos perseguidos políticos. Não é só a Igreja que deve estar chorando a sua perda. Não só os cristãos devem chorar. A perda irreparável é de todo o povo brasileiro envergonhado e humilhado pelas trevas da corrupção e da pouca vergonha. O Brasil está definitivamente órfão, mais pobre, mais triste e mais sombrio.

Gilberto Telmo - prof. adjunto da UECE

OAB: "D. ALOÍSIO TEVE PAPEL DECISIVO NO MOVIMENTO PELA REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL"






23/12/2007 - 13h54
OAB ressalta atuação de d. Aloísio pelos direitos humanos

De Gerusa Marques
Em Brasília
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, divulgou hoje nota à imprensa lamentado a morte do arcebispo emérito de Aparecida, cardeal dom Aloísio Lorscheider. A entidade ressalta a atuação de d. Aloísio durante a ditadura militar em defesa dos direitos humanos.
A OAB diz que durante os anos em que presidiu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) - de 1971 a 1979 - o arcebispo "teve papel decisivo" no movimento pela redemocratização do Brasil.
Dom Aloísio, 83 anos, faleceu às 5h20 desta manhã de hoje, no Hospital São Francisco, em Porto Alegre (RS).
Leia na íntegra a nota da OAB:
A morte de dom Aloísio Lorscheider evoca tempos heróicos, de resistência à ditadura militar e de obstinada militância em defesa dos direitos humanos. O período em que presidiu a CNBB - de 1971 a 1979 - corresponde ao mais duro e dramático da luta pela redemocratização do Brasil, em que teve papel decisivo, mostrando determinação e grande coragem pessoal.
Ao lado de Raymundo Faoro, que então presidia a OAB Nacional, dom Aloísio Lorscheider expressou os anseios da sociedade civil brasileira, no processo que então ficou conhecido como distensão política - e foi o primeiro passo concreto no rumo da redemocratização do país. Isso todos nós lhe ficamos devendo.
O temário de sua ação político-pastoral, que jamais cessou, permanece atualíssimo: defesa dos direitos humanos, reforma agrária e distribuição mais justa da renda nacional. A homenagem maior que a cidadania brasileira pode prestar à memória de dom Aloísio é a de manter acesa a chama dessas causas a que, com tanta coragem e dedicação, devotou seu admirável apostolado.
Leia o nosso comentário no site da Folha on Line:
Gilberto Telmo Sidney Marques (2) 23/12/2007 17h26

FORTALEZA / CE
Ao lado de D. Helder Câmara e D. Paulo Evaristo Arns, D. Aluisio Lorsachider foi daqueles que combateu o regime de terror da ditadura militar em todas as horas. Jamais se deixou intimidar por ameaças. Sereno, lúcido e corajoso fez parte uma Igreja libertadora que hoje fica imensamente mais pobre e mais triste. Não é só a Igreja nem os crisitãos que perderam com sua morte. Perde o Brasil a quem ele amou com atitudes desassombradas em defesa dos pobres e dos oprimidos pela fome, pela exploração capitalista desumana e pela ditadura sanguinária.
Gilberto Telmo - Professor adjunto da UECE

SOBRE A TRANSPOSIÇÃO, SEM OMISSÃO


Fome sem greve

Valmir Pontes Filho

20/12/2007 00:55


Um mês e meio atrás, viajando pela BR 222 em direção a Fortaleza, assisti a uma cena que me deixou chocado. Uma senhora de aspecto envelhecido se dirigia, latas à mão, a um barreiro onde restava estocado um pouco d'água. Pude nitidamente perceber que se tratava de um líquido de cor escura, de que se serviam dois caprinos magérrimos, mas de onde essa senhora também retirou o que precisava. Certamente essa água, se é que assim se pode chamar aquilo, não seria usada para um banho. Isto seria um luxo impensável naquele ambiente de miséria absoluta, provocada pela seca implacável. Ela serviria, sim, para beber e cozinhar, se é que houvesse algo a ser cozinhado. Fiquei a imaginar, no conforto do ar-condicionado do veículo onde estava, o ambiente de fome e de sede em que a dita senhora - uma notória não-cidadã - se achava, certamente ao lado dos seus filhos menores. Todos embrutecidos e abaixo da linha mínima da dignidade humana. Essa dramática situação talvez estivesse diminuída, ou mesmo eliminada, caso o Governo Federal, buscando reduzir a pobreza e as desigualdades sociais e regionais (CF, art. 3º, III), já tivesse concluído a transposição do Rio São Francisco. Suas águas, ao invés de irem para o Atlântico, estariam, literalmente, a salvar milhões de nordestinos que, como aquela senhora, sentem fome e sede brutais. E o sentem sem ter deflagrado greve! Mas não. Por conta de pressões desarrazoadas, senão desatinadas - como a feita, pasmem todos, por um Bispo católico - novamente as obras são paralisadas, agora por conta de liminar de um Juiz federal da Bahia. Sinceramente, não me comove a "greve de fome" do Bispo, cuja ânsia por celebridade é inegável. Já ao Sr. Juiz, ouso sugerir que ele prove do líquido do barreiro e reveja sua decisão. Valmir Pontes Filho - Advogado e professor de Direito
Nosso comentário no jornal O POVO de 20/12/2007

Nosso comentário:
Parabéns Dr. Valmir pela lucidez e pela clareza de seu artigo. A grande pergunta é: onde estão aqueles que deveriam ser os principais defensores da transposição? Cadê a bancada do Ceará no Congresso Nacional? Será que nossos deputados e senadores estão silentes por oportunismo político ou intimidados pela greve de fome de um bispo que, movido pela paixão e não pela razão, é levado a um gesto equivocado? Quem se dispõe a fazer uma greve de fome em defesa da transposição? Esta pergunta é direcionada aos "nossos" representantes, incluindo-se aí o governador e o senador que propôs a interligação das bacias hídricas do Ceará. Vamos lá. O povo está atento, esperando um gesto de coragem e não só discursos vazios nos anos de eleição.

Gilberto Telmo Sidney Marques - prof. adjunto da UECE
Nota: quem quiser se manifestar através do jornal O POVO on line é só clicar em:
http://www.opovo.com.br/opovo/opiniao/753527.html
é de graça e não doi nada

O GRANDE DEBATE OU ONDE ESTÃO AS AVESTRUZES?


POLÊMICAS DO VELHO CHICO
A entrada em cena de personalidades como o bispo d. Capio e atrizes do porte de Letícia Sabatela (cuja militância política era desconhecida até então) e Osmar Prado (também sem tradição de lutas populares) está dando visibilidade aos protestos contra a transposição das águas do Rio São Francisco. Do outro lado (a favor) ocorrem manifestações isoladas. O grande debate está ocorrendo na mídia. Os políticos cearenses da bancada federal estão silentes. O governador, idem. Imitando as avestruzes que na hora do perigo enfiam a cabeça no buraco, deputados federais e senadores não tem ocupado espaços na grande imprensa para defender a transposição. Até um ex-governador e atual senador que "criou" no discurso, e quem sabe no papel, um projeto de "interligação de bacias" (?). Cadê esse pessoal de discurso fácil e fluente e, às vezes, convincente nos palanques eleitorais? Estarão essas pessoas acovardadas e intimidadas ante o gesto insensato do bispo equivocado? Ou temem perder dividendos no próximo pleito eleitoral para presidente onde desponta como candidato de consenso o sr. Ciro Gomes?

Diferentemente das avestruzes, o blog TELMOCIENCIAS está comprando essa briga. Promove o debate salutar sobre a transposição, sem partir de falsas premissas, contendo sentimentos e preferências, mas dando vazão a uma cobrança na postura de quem de "direito".

Ninguém pode ficar fora desse grande debate. A omissão será um tanto mais grave que a exposição sincera de dúvidas, questionamentos para que a opinião construída de forma ,madura e isenta.

Como nordestinos, é nosso dever dar visibilidade ao grande questionamento do momento. Esperamos que muito explicitem aqui suas apreensões, suas dúvidas, suas convicções e contribuam neste grande debate nacional. A hora é essa. Depois do "consumatum est" será tarde demais.

Participar do debate é um imperativo do verdadeiro exercício da própria cidadania.

O NOSSO BISPO A FAVOR DA TRANSPOSIÇÃO

Dom Edmilson diz que Transposição é o bem de todos
24/03/2007 -13:12

POR: PAULO SÉRGIO CORDEIRO

O debate sobre a Transposição de Bacias do Rio São Francisco teve três capítulos nas últimas horas. Primeiro o IBAMA liberou a obra, depois o ministro da Integração Nacional, Geddel Veira Lima (PMDB/BA), diz que não há prevista liberação de recursos para a obra. Em seguida, Dom Manoel Edmilson da Cruz (foto exclusiva), bispo Emérito de Limoeiro do Norte, falou exclusivamente para este site sobre o assunto. Dom Edmilson disse que “As pessoas devem querer o bem das outras e, se há água em abundância em um lugar não tem motivos para não levá-la para onde há escassez”. Dom Edmilson falou ainda sobre o uso da água. Para o bispo “a água não pode ser somente para a agroindústria mas também para este setor”. Concluiu que “se há erros que sejam corrigidos mas nunca se deve retardar uma obra tão importante para o Nordeste”. Dom Edmilson da Cruz é um contraponto ao bispo de Barra (BA), Dom Flávio Cappio, que fez greve de fome contra a Transposição do Rio São Francisco e liderou campanha em Brasília contra a obra.
Matéria reproduzida do site Ceará Urgente de 21/12/2007

DEU ATÉ NA IMPRENSA INTERNACIONAL

Enquanto muitos aqui no Ceará e também no Brasil se omitem, o debate já ultrapassa as fronteiras do país. Leia abaixo as ponderações de Rodrigo Gueron para o Le Monde Diplomatique que é um tablóide do jornal francês Le Monde, um dos mais respeitáveis e competentes órgãos da imprensa internacional

POLÊMICA

A fome de miséria do Bispo

Os que apóiam Dom Cappio não podem ser de esquerda. Tornaram-se cúmplices e motores de um dos mais profundos conservadorismos brasileiros. Um esquema que glorifica exatamente aquilo que precisa ser vencido: fome, sofrimento e morte


Escrevi um primeiro artigo sobre a greve de fome de Dom Luiz Cappio contra a transposição do Rio São Francisco no jejum anterior do religioso. Naquela ocasião, ele recebeu o apoio de alguns dos maiores coronéis oligarcas nordestinos: ACM foi visitá-lo e o então governador de Sergipe, João Alves Filho, chefe do pefelê local, participou de uma missa em sua homenagem. Note-se que ambos foram derrotados, nas eleições que se seguiram, exatamente por dois candidatos a governador do PT, numa campanha eleitoral onde as obras do rio não deixaram de ser debatidas.É evidente que as discussões técnicas em torno da transposição são importantes. O problema são as características do ato protagonizado pelo bispo, o que esta performance diz e simboliza. Muito mais que os apoios ecléticos recebidos por Dom Cappio, seu gesto traz à tona algo que expressa o que o Brasil, e o Nordeste em particular, têm de mais conservador e violento.O ato do bispo é, em primeiro lugar, um culto à fome, ao sofrimento e em última análise à própria morte. O bispo se auto-exalta, e é exaltado, como alguém que seria mais virtuoso que os outros porque sofre e passa fome. Isso o faria uma espécie de portador da verdade. Ou seja, fome e sofrimento seriam uma espécie de passaporte para a bem. Dessa maneira, no entanto, o bispo restaura o próprio circuito de miséria, violência endêmica e poder, que se fecha numa lógica, num sentido, que há mais de um século aprisiona a vida, e conseqüentemente a política, no Nordeste.A pulsão de morte... a mistificação religiosa contra a qual Glauber Rocha se levantou com veemênciaO mal que o moralismo salvacionista católico fez, e faz, ao país, apesar de toda ambígua e impressionante potência de Canudos, parece não ter fim. O culto ao mártir morto e vitimizado, a lógica da sina do miserável predestinado; enfim, a mistificação religiosa contra a qual Glauber Rocha se levantou com veemência. Esse ímpeto, que balança entre o conformismo e a atitude suicida/auto-martirizante por uma grande causa – como supostamente é a do bispo – transforma-se numa espécie de pulsão de morte coletiva que transcende, no Brasil, os limites do Nordeste.Estou longe de ser um entusiasta do desenvolvimentismo, do progresso a qualquer preço: aí também existe um culto positivista e uma crença na redenção, em torno da qual organizam-se esquemas de poder. Acredito, no entanto, que água, produção de alimento e mudanças nas relações de trabalho fariam bem ao sertão. É claro que deve haver pressão política, para que os pequenos proprietários desfrutem da obra. Eles podem vir a ser uma classe média rural, pequenos produtores, por vezes resultado das ocupações de latifúndios improdutivos feitas pelo MST, e que votaram massivamente em Lula nas últimas eleições. A Pastoral da Terra e a UDR que me desculpem, mas o MST é fundamental para o crescimento do nosso mercado agrícola; para que avance o processo de diversificação e barateamento dos alimentos que hoje vivemos no país.E embora me considere à esquerda dos marxistas, com suas teleologias e transcendências, há até algo de marxista nessa minha afirmação, qual seja, entender que as transformações da produção são sempre, de certa forma, uma transformação – e uma produção – política. Mas o marxismo cristão brasileiro torna-se cada vez mais conservador: prefere a metafísica de Marx – a salvação em algum socialismo imaculado – ao seu materialismo. É triste que os teóricos da Teologia da Libertação, que produziram uma ruptura e um movimento liberador na imanência das lutas, na rebelião dos pobres e na potente palavra de ordem do MST (“Ocupar, resistir, produzir”, hoje um tanto esquecida...), tenham caído nessa captura conservadora que nega a vida pela transcendência.A mesma lógica moralista de Frei Betto, quando diz que o problema é os pobres desejaremÉ curioso, inclusive, que uma conhecida atriz global apóie com tanta veemência o tal bispo. Ela que, como milhões de pessoas, todos os dias toma banho em água limpa graças à transposição do rio Guandu, que abastece o Rio de Janeiro; e que é famosa graças, além de seu trabalho, à poderosa indústria do entretenimento e a seu custoso aparato tecnológico, quer agora negar a tecnologia aos pobres e falar dos perigos do mercado e do dinheiro se expandir pelo sertão. É a mesma lógica moralista que fez Frei Betto dizer, há não muito tempo, que a culpa da fome era da geladeira, porque fez os pobres desejarem ter sorvete e refrigerante, quando antes se satisfaziam com arroz, feijão e carne seca. Os pobres, os que estão fora do “mercado” desejando: este é na verdade o “perigo”....Parece claro, portanto, que não foi contra os possíveis problemas da transposição do rio, nem contra as grandes misérias do capitalismo, que essa greve se voltou. É na verdade – como Gil e Caetano bem disseram na canção Haiti, numa menção à ira de nossas “classe médias” contra as escolas propostas por Darci Ribeiro — “um pânico mal-dissimulado diante de qualquer, mas qualquer mesmo, plano que pareça fácil é rápido, e vá representar uma ameaça de democratização...”Suponhamos mesmo que, na pior hipótese, a transposição beneficie o agronegócio, as mega-empresas agrícolas exploradoras. Então, organiza-se um sindicato, reivindica-se melhores salários, participação nos lucros, faz-se uma boa greve... Em todo caso, melhor que o servilismo aos coronéis, que não querem a transposição; melhor que uma procissão de miseráveis que santificarão um bispo morto e pedirão que Deus “nos mande chuva” e se autogloficarão na miséria, na privação e na dor.Acho inadmissível que setores que se dizem “de esquerda” apóiem isso: não são de esquerda, posto que estão sendo cúmplices e motores de um dos mais profundos conservadorismos brasileiros. Um esquema que e glorifica exatamente aquilo que precisa ser vencido: fome, sofrimento e morte.

sábado, 22 de dezembro de 2007

O VELHO CHICO


Transposição do São Francisco: polêmica sem fim
http://planetasustentavel.abril.uol.com.br/noticia/ambiente/conteudo_224566.shtml

Imaginada há mais de um século como solução para a seca do Nordeste, a proposta de transposição das águas do maior rio da região continua gerando divergências
Por Sérgio Adeodato
Almanaque Atualidades Vestibular - 2007

Se depender da vontade do governo federal, o projeto de desviar parte das águas do rio São Francisco para levá-la a regiões do semi-árido nordestino, mais ao norte, que sofrem com a seca, deverá sair do papel em 2006, após quatro anos de debates e polêmica. Em ano eleitoral, o presidente Lula pretende apresentar a obra como um de seus grandes feitos.
O principal argumento do governo: é crítica a situação dos recursos hídricos no Nordeste, onde grandes cidades e algumas capitais correm o risco de colapso no abastecimento e sertanejos andam quilômetros diariamente para buscar água para beber. Reverter esse quadro exige uma política de desenvolvimento e um plano consistente de ações. Nisso todos concordam. Mas não há consenso sobre se a transposição do São Francisco seja a melhor maneira de responder ao problema da seca e às suas conseqüências sociais e econômicas.
Projeto grandioso Ao custo aproximado de 4,5 bilhões de reais, o projeto prevê a retirada de água em dois pontos do rio - um no município de Cabrobó e outro em Petrolândia, ambos em Pernambuco. O primeiro local de captação corresponde ao eixo norte da transposição, no qual os canais percorrerão o interior nordestino para abastecer rios menores e açudes do semi-árido do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte. O outro desvio, do qual parte o eixo leste, interligará o São Francisco aos mananciais de Pernambuco e da parte leste da Paraíba que secam durante a estiagem. O nome "transposição" para a obra refere-se ao fato de que as águas têm de ser bombeadas para "transpor" os limites da bacia do São Francisco, passando a correr no leito de outras bacias hidrográficas mais ao norte, duramente atingidas pela falta de chuvas, que deixa secos os leitos de diversos rios.
Serão ao todo 722 quilômetros de canais e adutoras que vão transpor terrenos áridos e, em alguns casos, íngremes, até chegar ao destino final. Nos locais mais altos, que atingem 300 metros de altitude, os canais precisarão transpor 12 túneis e a água será empurrada por meio de estações de bombeamento. Pequenas usinas hidrelétricas, previstas na obra, aproveitarão o declive do relevo para gerar energia, recuperando dois terços da eletricidade gasta para bombear a água.
O governo gastará 40 milhões de reais para desapropriar uma faixa de 100 metros nos dois lados dos canais ao longo de todo o percurso. Os canais transportarão 26,4 metros cúbicos por segundo de água - ou seja, apenas 1,4% da vazão média do São Francisco após a barragem de Sobradinho. No entanto, segundo prevê o projeto, esse volume poderá atingir 127 metros cúbicos por segundo quando o rio estiver mais caudaloso, na estação chuvosa.
A quantidade de água desviada é ínfima em comparação ao volume despejado pelo rio no oceano Atlântico, na divisa de Sergipe com Alagoas. Mas é o bastante para alimentar a polêmica em torno do projeto, mesmo depois de ter recebido em 2005 a licença ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a aprovação da Agência Nacional de Águas.

Jogo difícil
De um lado, defensores do projeto, como o governo e os quatro estados beneficiados pela transposição, alegam que a quantidade de água que estará disponível por habitante em regiões do semiárido distantes do São Francisco, daqui a 20 anos, de acordo com os estudos, é menos da metade do que o mínimo estabelecido como aceitável pela ONU (que é 1,5 mil litros por pessoa por ano). Para a região banhada pelo rio, a estimativa é que exista o dobro desse limite mínimo em 2025. Quem defende a obra pergunta: "Se uma região precisa tanto de água e outra a tem sobrando, por que não equilibrar essa balança?"
Reduzir a desigualdade no acesso aos recursos hídricos, segundo a corrente dos defensores, é o principal objetivo do projeto. A bacia do São Francisco concentra 63% da água existente no Nordeste, e 95% de sua vazão vai para o mar. Os 5% usados geram energia e abastecem cidades e cultivos agrícolas. Mas, conforme previsões para 2025, a maior parte da população, cerca de dois terços do total, estará concentrada nas bacias dos rios temporários, aqueles que secam na estiagem e retêm somente 22% da água da região.
De seu lado, os críticos, representados por governos dos estados banhados pelo São Francisco, lideranças sociais e entidades de defesa dos ribeirinhos, temem o pior: que uma nova intervenção, mesmo em pequena escala, gere muitos danos ao Velho Chico, já bastante explorado e prejudicado pelas diversas atividades econômicas empreendidas na região desde os tempos da colonização. Para os opositores da obra, como o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, a prioridade deveria ser a revitalização do rio. O comitê de bacia, instituição criada com o apoio do próprio governo federal em todas as regiões brasileiras, reúne os vários setores da sociedade civil com o objetivo de harmonizar os diversos usos do rio e articular soluções para evitar sua deterioração. No caso do São Francisco, a entidade promoveu debates e emitiu em 2005 um parecer contrário à obra da transposição e a favor da revitalização.
Isso significa que, antes de pensar em desviar as águas, o Ministério da Integração Nacional deveria investir em medidas para melhorar a qualidade do São Francisco. Uma seria o reflorestamento das margens, para evitar a erosão, que, em muitos pontos, está entupindo o rio com barro (assoreamento), causando problemas para a navegação e para o equilíbrio ambiental das espécies aquáticas. De acordo com dados da organização não-governamental Articulação no Semi-Árido Brasileiro, 95% da vegetação nativa que cobria a beira do rio já não existe mais. Coletar e tratar o esgoto e abastecer com água a população ribeirinha é outra necessidade. Atualmente, apenas 132 dos 504 municípios banhados pelo São Francisco têm rede de distribuição de água. Nos demais, a população precisa bombear água para plantar e beber, buscar com baldes na beira do rio ou perfurar poços artesianos.
Além dessas medidas, a revitalização significaria promover atividades para o desenvolvimento sustentável e gerar renda na região. Visaria também a reduzir a quantidade de lixo e poluentes, como os agrotóxicos despejados pelas plantações e os resíduos tóxicos liberados pelas indústrias da região metropolitana de Belo Horizonte no rio das Velhas, em Minas Gerais, o maior afluente do São Francisco.
Veja o
infográfico.
Faltará energia?
A greve de fome do bispo Luiz Cappio, de Barra (BA), em setmebro de 2005, acirrou a polêmica e adiou a transposição que estava pronta para sair da gaveta. Mais tarde, a idéia acabou barrada por liminares obtidas na Justiça por opositores do projeto - no caso, o governo da Bahia e do Sergipe. Até o fim de janeiro de 2006 uma delas ainda não havia sido julgada.
O debate é antigo: vem desde 1847, quando o imperador dom Pedro II propôs pela primeira vez a obra. Depois, arrastou-se pela República como solução para acabar com a seca, que, de tempo em tempo, fazia milhares de flagelados. Engenhosos, os projetos acabaram morrendo por falta de tecnologia segura para desviar o rio ou pelo altíssimo custo da obra da forma como vinha sendo proposta.
Novos argumentos contra e a favor vêm à baila. Um dos principais temores é com relação à geração de energia. Atualmente, as hidrelétricas do São Francisco geram 95% da eletricidade consumida no Nordeste. Quais seriam os riscos de retirar uma parte da água? Para os defensores do projeto, a queda na geração de energia será pequena e não trará problemas, até porque a região está interligada ao sistema nacional de distribuição de energia, podendo receber eletricidade produzida por outros rios longe dali. Já os críticos advertem que o pequeno volume de água desviado pela transposição pode ser muito significativo na seca, quando a vazão do rio é bem menor, prejudicando o abastecimento de energia.
Outras críticas
Para pagar a obra e manter o sistema de canais funcionando, o preço da água cobrado aos consumidores será maior do que o previsto inicialmente. Os mentores do projeto admitem a diferença, mas argumentam que o valor da conta será no máximo 7% maior e que isso representa muito menos do que pagar pela água fornecida por carros-pipa. Há cálculos, no entanto, que prevêem um aumento maior, o que poderia levar à inadimplência, porque a maior parte da população atendida é muito pobre.
Além desse, um fator que preocupa é o real destino que terá a água retirada do São Francisco. Embora o governo federal garanta que a prioridade será o abastecimento da população, os opositores advertem que será muito difícil fazer esse controle e, no fim das contas, grande parte da água poderá ser usada para irrigar cultivos de grandes propriedades rurais, seguindo os padrões atuais de uso de água na região. Hoje, 80% da água do São Francisco vai para as plantações, e não para o consumo humano.
Os canais abastecerão açudes estratégicos, como o Castanhão, no Ceará, e o Engenheiro Ávidos, na Paraíba. Os governos estaduais terão de construir adutoras e outros canais para levar a água até as cidades e depois distruibuí-la para as residências. O governo diz que várias obras regionais já começaram, como o Canal da Integração, no Ceará, que ligará o açude Castanhão à região metropolitana de Fortaleza. Suspeita-se que nem todas as obras necessárias para fazer a água chegar a quem mais precisa serão realizadas, seja por falta de verbas, seja por incapacidade dos estados em administrar esses empreendimentos.
Só com esses investimentos adicionais, a transposição - se realizada - atingirá o objetivo de beneficiar 12 milhões de habitantes no semi-árido. Há quem prefira dar prioridade a soluções mais simples e baratas, como a construção em massa de cisternas para captação de água da chuva ao lado das casas, iniciativa vista apenas como "complementar" pelos defensores da transposição. Será que a obra livrará a população dos carros-pipa pagos por políticos em troca de votos? Será que os moradores dessas regiões áridas, tendo água para beber e plantar, conseguirão uma chance de crescer por conta própria, sem depender dos "coronéis" ou das rezas para os santos mandarem chuva? Com que custo ambiental isso seria suportável para o São Francisco? Muitas dúvidas pairam no ar. Nesse jogo que envolve vários interesses, tanto os ribeirinhos que temem a destruição do rio como os sertanejos que esperam pela água da prometida transposição desejam um desfecho que melhore a qualidade de sua vida.
Resumo: rio São Francisco- Transposição de águas:
para levar água a quem não tem no seco Nordeste brasileiro, o governo pretende iniciar em 2006 a transposição das águas do rio São Francisco. Uma parte da água do rio será desviada por canais para rios menores e açudes nas regiões fora da bacia do rio que mais sofrem com a seca.
- Escassez de água: as previsões para 2025 são que a quantidade de água disponível por habitante no semi-árido nordestino longe do São Francisco será menos da metade do que a ONU estabelece como limite mínimo para a vida humana.
- Críticos: não há consenso sobre se a obra é a melhor maneira de acabar com a seca e com seus efeitos sociais e econômicos. Os críticos propõem soluções mais simples e baratas, como a construção de cisternas para captar e armazenar a água da chuva ao lado das casas. Desconfiam também de que a água desviada do São Francisco possa não chegar para quem precisa.
- Defensores: quem defende o projeto alega que a pequena quantidade de água a ser retirada do rio, 1,4% do volume que deságua no oceano Atlântico, não causará prejuízos. Essa água deixará vários açudes do Ceará, da Paraíba, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte sempre cheios, evitando o colapso no abastecimento durante a seca.
- Revitalização: Os estados banhados pelo rio, que são contra a obra - Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Alagoas -, argumentam que, mesmo sendo pequena a quantidade de água retirada do rio, isso pode afetar a geração de energia pelas hidrelétricas e ser prejudicial para um rio que já sofreu diversos impactos desde o tempo da colonização do Brasil. A erosão das margens desmatadas, o lixo e a poluição dos agrotóxicos são problemas difíceis de resolver. A solução desses males - chamada de revitalização do rio São Francisco - é, para os opositores da transposição, mais importante do que desviar as águas do rio.
Se depender da vontade do governo federal, o projeto de desviar parte das águas do rio São Francisco para levá-la a regiões do semi-árido nordestino, mais ao norte, que sofrem com a seca, deverá sair do papel em 2006, após quatro anos de debates e polêmica. Em ano eleitoral, o presidente Lula pretende apresentar a obra como um de seus grandes feitos.
O principal argumento do governo: é crítica a situação dos recursos hídricos no Nordeste, onde grandes cidades e algumas capitais correm o risco de colapso no abastecimento e sertanejos andam quilômetros diariamente para buscar água para beber. Reverter esse quadro exige uma política de desenvolvimento e um plano consistente de ações. Nisso todos concordam. Mas não há consenso sobre se a transposição do São Francisco seja a melhor maneira de responder ao problema da seca e às suas conseqüências sociais e econômicas.
Projeto grandioso
Ao custo aproximado de 4,5 bilhões de reais, o projeto prevê a retirada de água em dois pontos do rio - um no município de Cabrobó e outro em Petrolândia, ambos em Pernambuco. O primeiro local de captação corresponde ao eixo norte da transposição, no qual os canais percorrerão o interior nordestino para abastecer rios menores e açudes do semi-árido do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte. O outro desvio, do qual parte o eixo leste, interligará o São Francisco aos mananciais de Pernambuco e da parte leste da Paraíba que secam durante a estiagem. O nome "transposição" para a obra refere-se ao fato de que as águas têm de ser bombeadas para "transpor" os limites da bacia do São Francisco, passando a correr no leito de outras bacias hidrográficas mais ao norte, duramente atingidas pela falta de chuvas, que deixa secos os leitos de diversos rios.
Serão ao todo 722 quilômetros de canais e adutoras que vão transpor terrenos áridos e, em alguns casos, íngremes, até chegar ao destino final. Nos locais mais altos, que atingem 300 metros de altitude, os canais precisarão transpor 12 túneis e a água será empurrada por meio de estações de bombeamento. Pequenas usinas hidrelétricas, previstas na obra, aproveitarão o declive do relevo para gerar energia, recuperando dois terços da eletricidade gasta para bombear a água.

O VELHO CHICO NO CERNE DA POLÊMICA


O sertão vai virar mar?

21 Dez 2007 06:04

http://super.abril.uol.com.br/blogs/planeta/
O bispo de Barra, na Bahia, d. Luiz Flávio Cappio, trouxe de volta à atenção da mídia a transposição do rio São Francisco ao iniciar, há 23 dias, uma greve de fome. Foi o único meio encontrado por ele para tentar retomar as negociações com as autoridades públicas. A questão não é simples e diversas perguntas surgem na cabeça:
O que está acontecendo?
O bispo Cappio, que já tinha feito uma greve de fome contra as obras em outubro de 2005, voltou a jejuar para que o governo retome as negociações e modifique os projetos para o rio, que nasce em Minas Gerais e cruza a Bahia até desaguar no Atlântico. Para a autoridade da igreja católica, existem diversas alternativas à transposição para conseguir levar água às regiões com déficit hídrico do Nordeste. A idéia do governo é construir centenas de quilômetros de canais para que a água chegue aos que precisam.
O governo decidiu, porém, que não negociaria mais com o bispo e o Supremo Tribunal Federal liberou para que as obras reiniciassem, derrubando a decisão de um juiz que as suspendia. Os ministros, por 6 votos a 3, negaram o pedido de paralisação feito pelo procurador-geral da República, que acreditava que o governo não cumpriu as exigências necessárias para executar o projeto.
Ao saber do resultado, bispo Cappio foi internado em um hospital por causa de fraqueza e pressão arterial baixa.
Por que o governo defende tanto o projeto?
Desde quando Lula assumiu a cadeira de presidente pela primeira vez, a transposição (mudar de lugar) foi uma de suas principais bandeiras de sua campanha política. As autoridades públicas acreditam que esse projeto - que envolve cerca de R$ 4,5 bilhões - é o melhor meio para atingir a população com déficit hídrico. Pelas contas oficiais, aproximadamente 12 milhões de pessoas seriam beneficiadas diretamente com a mudança, já que geraria oportunidades de trabalho e combateria a fome, a pobreza e a migração. Outro argumento é que o sucesso da construção de mais de 700 quilômetros de canais seria o fim da indústria da seca, na qual políticos usam carros-pipa cheios de água para conseguir votos.
O ponto mais importante, porém, é o impacto ambiental que tais mudanças poderiam provocar. O governo afirma que já combate a poluição que as populações ribeirinhas geram e evita outros problemas que poderiam acontecer, como o acúmulo de bancos de areia que impossibilitariam a navegação e comprometeriam a biodiversidade do rio.
Por que o bispo é contra?
De acordo com o próprio bispo, existem mais de 500 alternativas que são melhores do que a proposta pelo governo. A transposição não acabaria com a dependência de água que muitas regiões têm. Além disso, poderia afetar a economia da região, uma vez que o custo da água seria muito caro. E não pense que só o Nordeste seria afetado. Segundo os opositores, o custo da energia aumentaria em todo o Brasil, pois o sistema é interligado por todo o país e o potencial hidrelétrico da região cairia.
Na parte ambiental, os que são contrários afirmam que ainda há o que se questionar do processo de licenciamento ambiental para a obra e que haveria perda de terras férteis e ameaçaria a biodiversidade terrestre e aquática da região.
Agora, uma pergunta continua: quem está certo?